Uma espera ativa e disponível, sempre à procura e pronto para o encontro
“Então o reino dos céus será como as dez virgens que pegaram suas lamparinas e saíram para encontrar-se com o noivo. Cinco delas eram insensatas, e cinco, prudentes.” Mateus 25,1-2
O ano litúrgico já está chegando ao fim e a Palavra de Deus nos convida a dirigir o olhar da fé às últimas realidades; hoje preferimos falar em escatologia cristã. Acodem-nos à mente as palavras de Jesus pronunciadas pelo fim de sua vida: Levantem-se e ergam a cabeça, pois a sua salvação estará próxima (Lc 21,28).
Com a parábola das dez virgens que vão ao encontro do esposo, o Senhor quis esboçar a situação de seus discípulos no mundo e o próprio significado de sua passagem através da vida; quis ajudar-nos a responder àquela eterna e inquietante pergunta: “Para onde estamos indo?” Meditar isso é refletir sobre nosso destino mais verdadeiro; é como olhar-se no espelho da vontade de Deus.
O que é a vida à luz desta parábola evangélica? É um espera ativa. Todo ambiente criado por Jesus pela parábola é de expectativa (o conhecimento dos costumes nupciais do tempo ajuda a entendê-lo também em certos detalhes menos claros) está dominado por este sentimento de espera. Tudo respira um ar de suspense. Sabe-se que o esposo virá (buscar a esposa da sua casa) e cada coisa se ilumina com este pensamento: os ouvidos estão grudados na porta e os olhos na janela; todas as conversas falam “dele” e se espera de um momento ao outro que se levante o grito: “Eis o noivo, está chegando. Ide ao seu encontro!”.
Assim é a vida cristã nesta terra à luz da fé: uma espera. O cristão é aquele que – certo de que um dia vai realizar-se um evento decisivo para ele – se esmera para organizar cada ato de sua vida em vista desta espera. Não se trata, porém, de uma espera inerte, uma espera para que o tempo passe, e basta, como fez o servo que enterrou o talento recebido e esperou que o dono chegasse. Para as virgens da parábola, a espera é preenchida com suas preocupações: manter a lâmpada acesa e ir ao encontro do esposo. Transposto em nossa vida, isto significa viver na “vigilância” e na “fidelidade”.
Jesus, ao falar, é seguido por esses traços característicos do verdadeiro discípulo. Compara o cristão ao “servo fiel” a quem o patrão confiou a guarda da sua casa, que não adormece, não se apodera do que está na despensa, não é prepotente com os outros servos; fica, porém, desperto e pronto, para abrir a porta a seu patrão assim que volte das núpcias (cf. Lc 12,35ss). A meditação desse Evangelho (Mt 25,1-13) nos chama a atenção precisamente sobre este requisito: Sê fiel até morte e te darei a coroa da vida (Ap 2,10).
Mas o que significa ser fiel? O apóstolo Paulo o explica aos primeiros cristãos: Portanto, não nos cansemos de fazer o bem. No momento certo, teremos uma colheita de bênçãos, se não desistirmos. Por isso, sempre que tivermos oportunidade, façamos o bem a todos, especialmente aos da família da fé (Gl 6,9-10). Ser fiéis a Deus significa, portanto, ser perseverantes, não abandonar a luta, mesmo quando a espera se prolonga e o compromisso se torna mais duro.
Fidelidade e vigilância: o que torna isso muito urgente é que não se sabe a hora: “Portanto, vigiem, pois não sabem o dia nem a hora da volta.” (Mt 25,13). Não sabiam a hora aquelas virgens e não a sabe nenhum de nós. Não a sabiam nossos irmãos que ontem, na dinâmica e circunstâncias da vida, encontraram a morte. Se pensarmos bem, esta é a coisa mais importante da vida: sabemos o que (que devemos morrer), mas não sabemos quando. É um pensamento que não dá oportunidade a dúvidas, uma verdadeira espada de Dâmocles – uma antiga metáfora para a iminência constante do perigo, sugere que a consciência da mortalidade está sempre presente, pairando sobre cada indivíduo – que está pendurada sobre todos os que estão sentados no banquete da vida.
Mas o que significa, a este ponto, este vigiar tão insistente do Evangelho? Ficar com a respiração suspensa, pensando dia e noite na morte, paralisados com este pensamento? Pelo contrário. Significa pensar na vida e como enchê-la de conteúdo; significa agir em cada momento conforme a vontade de Deus, mas agir! Isto é o que os Pais da Igreja no período da Patrística viam no símbolo da lâmpada acesa: a fé que se alimenta com as boas obras, ou, como diz São Paulo, a fé que se expressa pelo amor (serviço).
Busca despertar uma consciência urgente sobre a importância de viver de maneira fiel aos princípios cristãos e de manter-se vigilante em relação à própria vida espiritual. A incerteza quanto ao momento da morte serve como um lembrete para viver de maneira significativa, focada nos valores e ensinamentos cristãos, garantindo que estejamos prontos para enfrentar a eternidade a qualquer momento. Essa abordagem ressalta a ênfase cristã na preparação constante para a vida após a morte, promovendo uma vida de retidão e compromisso espiritual.
Recordemos a bela expressão de Jesus: Andem na luz enquanto podem, para que a escuridão não os pegue de surpresa. Quem anda na escuridão não consegue ver aonde vai (Jo 12,35), o que equivale dizer: prossigamos com todas as energias, esperando que alguém nos chame para descansar.
Certo, esta vida de fé e de ação evangélica não pode ficar dissociada de certa tensão do coração para o além-túmulo e sem uma espera atenta do esposo que deve vir. Quem se acomoda completamente nesta vida não espera mais nada. “Espera” é uma palavra que se deriva da mesma raiz de atenção: significa “tender para”, viver com a alma à procura de algo. Alguma vez, é bom “levantar o olhar para o alto”. Numa época em que se fala tanto de “fidelidade à terra”, e qual os cristãos são tentados a seguir essa doutrina em massa, não é um mal que alguém recorde que há também “uma fidelidade ao céu” a ser preservada; uma fidelidade, aliás, que não contraria a primeira, mas é como o sal que a impede de corromper.
Seria bem triste se – como está acontecendo em alguns casos – o pensamento profano e ateu fosse obrigado a descobrir, sozinho, a urgência do problema da morte; seria triste porque por este caminho, isto é, fora do Evangelho, se descobriria somente “o absurdo” ou, na melhor das hipóteses, “a majestade” da morte, mas não a esperança total que ela esconde. O “servo fiel” que espera seu Senhor deve ser também, e necessariamente, o profeta desta espera, isto é, sua testemunha diante dos homens.
“Agora, irmãos, não queremos que ignorem o que acontecerá aos que já morreram, para que não se entristeçam como aqueles que não têm esperança” (1Ts 4,13).
Paulo, falando aos cristãos de Tessalônica, recorda a esperança cristã na ressurreição. Insiste para que não se entristeçam como fazem os que não têm esperança e permaneçam atentos para poderem ir ao encontro do Senhor. Aponta para a realidade presente na perspectiva da vinda futura do Senhor. Paulo pede e exorta, no início do capítulo 4 da carta, para que progridam sempre mais na vontade de “caminhar e agradar a Deus”. Esta resposta há de verificar-se em todos os aspectos da vida cristã: no cumprimento dos preceitos, na santificação, no amor fraterno, viver em paz, no trabalho e no testemunho perante os de fora da comunidade, porque a vinda do Senhor está próxima.
Na comunidade de Tessalônica havia, no entanto, uma questão que precisava ser resolvida e tinha a ver com os mortos. Como é que eles podem aguardar, esperar e ir ao encontro de Cristo quando ele vier? Paulo, procura esclarecer a situação dos que morreram em Cristo, chamando os crentes a uma atitude de esperança, bem diferente daqueles que se entristecem.
Vivos ou mortos, todos irão ao encontro de Cristo quando soar a trombeta, porque “Deus levará com Jesus os que em Jesus tiverem morrido”. Vivos ou mortos “estaremos sempre com o Senhor”. É esta fé no poder de Deus que faz nascer a esperança no crente e o leva a viver em alegria.
A ideia da Segunda Vinda tinha provocado outro problema nas pessoas de Tessalônica. Esperavam-na muito em breve: esperavam ardentemente estar vivos quando acontecesse. Mas também estavam preocupados com aqueles que tinham morrido antes da Segunda Vinda, ainda que tinham sido cristãos. Não podiam estar seguros de que aqueles que já tinham morrido fossem participar da glória do dia que, segundo pensavam, estava às portas. Paulo escreveu esta passagem para responder a este problema. Sua resposta é que haverá uma mesma glória tanto para os que morreram como para os que sobrevivem.
Frente à morte o mundo pagão reagia com desespero – como em nossos dias com sua cultura materialista de morte. Eles a enfrentavam com uma lúgubre resignação, com uma fria desesperança. Tosquio escrevia: “Uma vez que o homem morre não há ressurreição.” Teócrito: “Há esperança para aqueles que estão vivos, mas os que morreram estão sem esperança.” Catulo: “Quando nossa breve luz se extingue há uma noite perpétua em que deveremos dormir.” Em suas tumbas de pedra se gravavam lúgubres epitáfios: “Eu não era; cheguei a ser; não sou; não me importa.”
A resposta de Paulo estabelece um princípio importante. Se um homem tiver vivido e morrido em Cristo ainda que morto encontra-se ainda em Cristo e ressuscitará nEle. Isto significa que entre Jesus Cristo e o homem que o ama há uma relação que não pode ser destruída por nada. É uma relação independente do tempo; uma relação que ultrapassa a morte. Pelo fato de Jesus Cristo ter vivido, morrido e ressuscitado, também o homem que é um com Cristo viverá, morrerá e ressuscitará.
Nada na vida ou na morte poderá separá-lo de Cristo. A imagem que Paulo traça sobre o dia em que Cristo virá é poética. Tenta com palavras expressar o inexprimível e descrever o indescritível. O quadro é o seguinte. Na Segunda Vinda, Cristo descerá dos céus à Terra. Dará a voz de mando e diante da voz de um arcanjo e da trombeta os mortos despertarão; então, tanto os mortos como os vivos serão arrebatados em carros de nuvens ao encontro de Cristo e depois estarão para sempre com seu Senhor. Não devemos ponderar com um literalismo cru e estrito o que não é mais que a visão de um vidente. O importante não são os detalhes. O importante é que tanto na vida como na morte o cristão está em Cristo, e essa é uma união que nada pode romper.
Eu te vi em teu santuário e contemplei teu poder e tua glória. Teu amor é melhor que a própria vida; com meus lábios te louvarei. Sim, te louvarei enquanto viver; a ti em oração levantarei as mãos. Tu me satisfazes mais que um rico banquete; com cânticos de alegria te louvarei. Minha alma se apega a ti; tua forte mão direita me sustenta. Salmo 63,2-5.8
O salmista nos ajuda a expressar esse desejo profundo: A minha alma tem sede de Deus! Por Paulo somos convidados a olhar a morte sem pânico, mas com a serena certeza de se unir a Cristo. A estas vozes da Escritura gostaria de acrescentar um episódio que permite perceber ao vivo o sentimento de uma casa de Óstia, uma mãe de nome Mônica e seu filho de trinta anos, chamado Agostinho, falavam, um dia, a sós, com grande doçura. Falavam daquela vida que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou (1Co 2,9). Enquanto assim falavam parecia que o mundo pouco a pouco tivesse desaparecido a seus olhos.
No silêncio que se seguiu parecia que ambos tivessem degustado a doçura da vida eterna. Despertando do êxtase, a mãe disse ao filho: “Este mundo não tem mais nenhum gosto para mim. Desejava viver só para te ver cristão, e agora que Deus me ouviu não sei o que estou fazendo aqui”. Dali a poucos dias, enquanto estavam esperando o embarque para a África, aquela mãe adoeceu gravemente com malária. “Sepultareis aqui a vossa mãe”, disse aos dois filhos ali presentes, e ao vê-los aflitos de dor pensando que deviam deixá-la longe da pátria acrescentou: “Nada está longe de Deus e não há nenhum perigo de que ele se esqueça do local onde no fim dos tempos deverá vir me buscar e fazer-me ressuscitar. Somente recordai-vos de mim, onde quer que estejais, diante do altar de Deus”.
Eis uma “virgem prudente” que o Senhor encontrou esperando vigilante. A esta e às suas lágrimas de mãe a cristandade inteira é devedora do grande Agostinho que nos narrou este fato (Conf. IX, 10ss). Ela tinha seguido o filho transviado desde a África, terra natal, até Milão, como sombra da graça de Deus, até o restituir novo, à Igreja, e a nós também, que assim muitas vezes nos iluminamos com sua Palavra.
A parábola apresenta estas duas atitudes. Cinco virgens são prudentes, quer dizer, preparam-se no tempo de espera, para acompanhar o esposo quando ele chegar e as outras cinco são insensatas, julgam que o esposo não demora e ficam passivas, não se preparam para o acompanhar quando ele chegar e, na hora do encontro não têm azeite.
Esta insensatez traz consigo um atraso fatal que impede entrar no banquete. Encontrando a porta fechada já não adianta suplicar “Senhor, Senhor”, porque nem todo o que diz “Senhor, Senhor!’ entrará no Reino dos Céus, mas só aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.” (Mt, 7,21). Claramente as virgens insensatas não fizeram a vontade de Deus.
Esta parábola, contada por Jesus aos seus discípulos, pretende ensiná-los a viver o tempo de espera, sem desânimos nem cansaços e conscientes da demora. Aparentemente todos esperam, todos desejam encontrar-se com o esposo, todos foram com as suas lâmpadas esperar o senhor que vem, todas se deixaram dormir. Mas, na realidade, existe uma grande diferença entre os que esperam. Uns ocupam o tempo de espera preparando-se para acompanhar o esposo até ao banquete enquanto outros vivem um desejo que vai até à possibilidade de vê-lo, mas não prevê segui-lo mais além.
Na hora que menos esperam, “no meio da noite”, soa a “voz do arcanjo”, a “trombeta divina”, todos despertam, vivos e mortos, e revela-se o que distingue prudentes de insensatos. Percebe-se quem esperou de modo ativo, mantendo-se firme na procura, confirmando o amor e o desejo da sabedoria, mantendo-se em sentido de alerta, na escuta permanente e de pensamento vigilante. Estes são os que se encontram e são encontrados e seguem com o esposo para o banquete. Pelo contrário, aqueles que negligenciaram a sua espera e consideraram desnecessário manter viva a sede de Deus, esses, porque não têm azeite, porque vão à pressa comprá-lo à última hora, porque chegam atrasados, porque a porta fechou não entram e nem sequer são conhecidos. Terminadas as oportunidades de procurar não adianta clamar dizendo “Senhor, Senhor”, porque o importante é fazer “a vontade de meu Pai que está nos céus”.
Mateus alerta, assim, os discípulos de Jesus de todos os tempos, para a necessidade de mudar o comportamento diante da certeza da vinda do Senhor e da incerteza do dia e da hora.
A atitude prudente é a daquele que vive desde a aurora à procura do Senhor, o procura como quem tem sede, vive a espera no amor e no desejo do encontro, não se cansa de esperar, antes passa a noite a pensar naquele que o coração ama.
Que, à hora do “sinal dado, à voz do arcanjo e ao som da trombeta divina”, seja na aurora do dia ou no meio da noite, sejamos encontrados em atitude de quem espera o Senhor que vem, para “sermos arrebatados”, “para irmos ao encontro do Senhor nos ares” e podermos estar “sempre com o Senhor”.