Francis Chan fala sobre a importância do serviço e da formação de discípulos nas igrejas locais

Qual seria a sua reação se Jesus o descalçasse agora mesmo e começasse a lavar os seus pés? Tente vislumbrar essa cena.

Eu não conseguiria me conter. Vejo-me chorando compulsivamente. Acho que me sentiria absolutamente indigno e constrangido, mas também seguro e honrado. Mal posso me imaginar no mesmo ambiente onde está Jesus. Não consigo conceber a ideia de que meu Criador e Juiz se dispõe a lavar meus pés. Parece absurdo.

Essa noção de que o Deus Todo-Poderoso Se humilhou a ponto de nos servir e de morrer por nós é a essência de nossa fé. Na raiz de nosso chamado está o mandamento para que imitemos a Deus servindo uns aos outros. Depois de lavar os pés dos discípulos, Jesus ordenou que eles fizessem o mesmo entre si (Jo. 13.14). Entretanto, em que medida os “cristãos” hoje se dispõem a servir aos outros?

Jesus disse: “Pois nem mesmo o Filho do Homem veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por muitos” (Mt. 28.20 NVT). No entanto, não é nenhum segredo que a maioria das pessoas vai à igreja mais para consumir que para servir. Sabemos que isso é uma estupidez, mas nos resignamos a esse ponto. Aprendemos a aceitar essa atitude como se não pudéssemos fazer nada a respeito. As pessoas entregam suas ofertas e, assim, mantêm a equipe ministerial; então, os ministros devem fazer sua parte e atender às pessoas. Parece uma engrenagem adequada e eficiente, e funciona muito bem em alguns casos. Não corresponde à vontade de Deus, mas funciona.

“Há alguma motivação por estar em Cristo? Há alguma consolação que vem do amor? Há alguma comunhão no Espírito? Há alguma compaixão e afeição? Então completem minha alegria concordando sinceramente uns com os outros, amando-se mutuamente e trabalhando juntos com a mesma forma de pensar e um só propósito. Não sejam egoístas, nem tentem impressionar ninguém. Sejam humildes e considerem os outros mais importantes que vocês. Não ­procurem apenas os próprios interesses, mas preocupem-se também com os interesses alheios. Tenham a mesma atitude demonstrada por Cristo Jesus. Embora sendo Deus, não considerou que ser igual a Deus fosse algo a que devesse se apegar. Em vez disso, esvaziou a si mesmo; assumiu a posição de escravo e nasceu como ser humano. Quando veio em forma humana, humilhou-se e foi obediente até a morte, e morte de cruz.” Filipenses 2.1-8 (NVT)

Deus quer que sejamos parecidos com Seu Filho, especialmente nas reuniões entre a família de fé. Será que vivemos sempre com a expectativa de servir? Pode ser que, diante dessa pergunta, alguns se sintam pressionados, como se um peso fosse colocado em suas costas. A vida já é corrida demais, então as pessoas querem que a igreja seja um lugar onde possam descansar e ser alimentadas. Porém, isso é um grande engano. Deus afirmou que mais abençoado é quem dá, não quem recebe (At. 20.35). Não há miserável que aquele que só busca vantagens para si. Nossa destruição deriva da nossa incapacidade de tirar os olhos de nós mesmos e contemplar os outros. É disso que Jesus nos salva. É essa transformação que o Espírito Santo deseja operar em nós. As pessoas mais humildes costumam ser as mais felizes.

Imagine-se parte de um grupo que se empenha no serviço mútuo. Você já esteve em uma sala cheia de pessoas humildes que tratam as outras como mais importantes? Ali se experimenta de tudo, menos sobrecarga. Quando servos se juntam, todos saem ganhando. Deus abomina o consumismo porque esse é um tipo de mentalidade que priva a igreja de vivenciar o vigor preparado pelo próprio Senhor. Não desista de viver isso.

A igreja não precisa ser um amontoado de gente queixosa por não receber o que esperava. Ela pode realmente se tornar um grupo de pessoas que se desenvolvem e prosperam por servir umas às outras.

O que temos produzido?

Se todos os graduados em Harvard resolvessem trabalhar em uma lanchonete, que pai ou mãe em sã consciência gastaria toda aquela fortuna para que o filho estudasse lá? Supõe-se que os formados em Harvard sejam profissionais prontos para ocupar cargos de alto escalão.

Do mesmo modo, Paulo esperava que a igreja produzisse pessoas santas, valentes, engajadas, inabaláveis diante de falsos ensinamentos e capazes de resistir à tentação (Ef. 4.11-14).

Ao descrever o que pretendia incentivar naqueles a quem pastoreava, o apóstolo se referiu a amadurecimento e “completa medida da estatura de Cristo” (v. 13). Os membros de sua igreja têm essas características?

Estabelecemos expectativas bem altas em relação a quem passa anos estudando em Harvard. Deveríamos esperar muito mais de quem passa quatro anos (ou quatro décadas!) na igreja.

No fim das contas, o que vale é o que produzimos. Ficamos obcecados em fazer as pessoas entrarem no templo e ignoramos o que sai dele. O propósito da igreja não é puramente existir, mas produzir.

Estamos formando discípulos maduros que imitam a Cristo por meio de incansável serviço mútuo?

Estamos desenvolvendo comunidades amorosas o bastante para deixar o mundo maravilhado (Jo. 13.34-35)? Se não são esses os resultados que obtemos, para que existimos?

Faço coro à indagação de Mike Breen:

“Somos bons apenas em reunir pessoas uma vez por semana, e talvez em pequenos grupos, ou nos destacamos em produzir o tipo de gente descrito no Novo Testamento? Será que não mudamos a definição de “bom discípulo” para alguém que aparece em nossos eventos, entrega ofertas e, vez ou outra, alimenta os pobres?”

Francis Chan

Extraído do livro “Cartas à Igreja”, publicado no Brasil pela editora Mundo Cristão

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