Como identificar emoções doentes e lidar com cada uma delas

A saúde mental tem se tornado um assunto cada dia mais discutido e urgente em diferentes círculos, principalmente por conta do aumento constante do número de pessoas que sofrem com condições que afetam não só a mente, mas também as emoções. Aqui no Brasil, a pauta se torna especialmente importante por sermos o país com a maior taxa de depressivos da América Latina. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), 5,8% dos brasileiros sofre de depressão. O número está acima da média mundial, que chega aos 4,4%.

Isso, é claro, também tem afetado as igrejas e seus líderes. De acordo com uma pesquisa realizada pela LifeWay, 23% dos pastores reconhecem lutar com condições mentais. Os motivos para isso podem ser diversos e a pesquisa lista alguns deles. De acordo com as estatísticas descobertas entre os líderes:

  • 54% acham suas responsabilidades frequentemente pesadas demais
  • Quase 50% acreditam que as exigências do ministério são mais do que podem suportar
  • Apenas 34% dizem ter amigos verdadeiros com quem compartilhar a vida

Com o distanciamento social e as mudanças por conta da pandemia da COVID-19, outras preocupações também entram em pauta:

  • 26% dos pastores se dizem preocupados com as finanças de sua igreja local
  • 16% sentem as pressões das mudanças e avanços tecnológicos
  • 12% se sentem pressionados em oferecer cuidado pastoral em um formato socialmente distante

A questão é que Deus nos criou para vivermos em plenitude de vida e alegria. Jesus, falando com Seus discípulos, foi bem claro sobre as aflições que experimentaríamos, mas deixou a promessa de que Ele já venceu este mundo (Jo. 16.33). Pedro, em sua primeira carta, afirma que podemos lançar sobre o Pai toda a nossa ansiedade, porque Ele cuida de nós (5.7).

Nós temos em quem nos apegar, temos um Deus imutável em quem podemos confiar. E, como pastores e líderes, precisamos não só lançar sobre Ele tudo aquilo que nos sobrecarrega, mas também estar atentos a como vai a nossa saúde – física e mental. Assim como precisaríamos tirar alguns dias de repouso e medicação para nos recuperar de uma pneumonia, também precisamos fazer o mesmo quando sofremos com questões de ansiedade, depressão e síndrome do pânico.

Liderança emocionalmente saudável

O pastor Peter Scazzero sentiu na pele os efeitos de uma mente e uma espiritualidade emocionalmente doentes. Além de afetar sua igreja local – a New Life Fellowship, fundada por ele e sua esposa Geri no Queens, em Nova Iorque – problemas não tratados acabaram abalando seus relacionamentos familiares e, é claro, sua própria saúde.

A jornada de Scazzero na busca por uma maneira saudável e equilibrada de continuar seu ministério rendeu três livros sobre o assunto: “Espiritualidade emocionalmente saudável”, “O líder emocionalmente saudável” e “Igreja emocionalmente saudável” – todos publicados no Brasil pela editora United Press.

Em “O líder emocionalmente saudável”, além de falar um pouco mais sobre sua própria história, ele explica a definição de um líder emocionalmente doente: “alguém que opera num contínuo estado de déficit emocional e espiritual, carente de maturidade emocional e de um “estar com Deus” suficiente para manter seu “fazer para Deus”.

Quatro características de um líder emocionalmente doente

Emoções doentes – seja por condições como a depressão e a ansiedade, ou não – acabam afetando todas as áreas da vida de pastores e líderes. Mas detectar esses problemas é essencial para tratá-los e alcançar não só uma liderança, mas uma vida muito mais saudável.

Segundo Peter Scazzero, questões emocionais ficam mais evidentes nas quatro características seguintes:

Baixa autoconsciência

Líderes emocionalmente doentes tendem a desconhecer o que acontece em seu interior. Até mesmo quando reconhecem uma forte emoção, não a processam ou expressam franca e adequadamente. Ignoram as mensagens relacionadas às emoções que seu corpo pode mandar – como cansaço, doenças provocadas pelo estresse, ganhos de peso, úlceras, dores de cabeça ou depressão. Não refletem sobre seus temores e tristezas, e não consideram como Deus poderia estar tentando Se comunicar com eles através dessas emoções. Tentam articular as razões para suas reações em experiências do passado.

Prioridade do ministério sobre o casamento ou a vida a sós

Outra característica é o fato de que esses líderes afirmam com veemência a importância de uma intimidade saudável nos relacionamentos, mas na verdade a veem como um fundamento para sua maior prioridade: construir um ministério eficiente. O resultado é que investem o melhor do seu tempo e energia se preparando para a liderança e apenas o que resta no cultivo de seu casamento ou mesmo de sua vida pessoal. Acabam, com frequência, tomando decisões importantes sem pensar no impacto de longo prazo elas podem causar sobre a qualidade e integridade de sua vida e seus relacionamentos.

Relacionamento com Deus não suporta quantidade de afazeres para Deus

Líderes emocionalmente doentes também acabam sempre ultrapassando os limites daquilo que conseguem fazer. Embora sempre tenham muito a fazer em pouco tempo, continuam dizendo “sim” a novas oportunidades e responsabilidades antes de discernirem a vontade de Deus. Para eles, a ideia de passar tempo em solitude e silêncio é um luxo ou práticas que não se adequam à vida de um pastor eficiente. Estão constantemente fazendo mais para Deus do que passando tempo com Ele.

Falta de um ritmo de trabalho e descanso sabático

Por fim, esses líderes não praticam o descanso sabático – um período semanal de 24 horas no qual não trabalham e aproveitam para descansar, ouvir mais a Deus e desfrutar da vida com Ele. Isso não quer dizer que eles não achem o descanso importante, mas acabam usando esse “dia de folga” para resolver outras questões e preencher com outros afazeres que não estejam diretamente ligados ao ministério. Normalmente, pensam que precisam finalizar todo o trabalho que têm, em todos os sentidos, para ganharem o direito de descansar.

Deus quer cuidar das suas emoções

O chamado para pastorear uma igreja ou liderar um ministério – seja ele qual for – é um trabalho excelente e de grande valor (1Tm. 3.1). Mas independentemente do cargo que possamos assumir ou das responsabilidades que recaiam sobre nós, não deixamos de ser filhos amados do Pai, de quem Ele quer cuidar com amor.

A vida pastoral exige um profundo compromisso espiritual, mas também requer atenção com as emoções. Se você se identificou com algumas das características de um líder emocionalmente doente, talvez seja hora de pedir ajuda e reorganizar algumas coisas. Assim como todo mundo, pastores e líderes também precisam de amigos fiéis, com quem possam compartilhar seus desafios e dificuldades.

Procure reconhecer suas dificuldades, peça ajuda ao Senhor e aos seus amigos e, se necessário, procure o auxílio de um profissional. Deus também quer cuidar das suas emoções.

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