A palavra “igreja” significa “os convocados”: “E eu lhe digo que você é Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do Hades não poderão vencê-la”(Mt. 16.18) Essa igreja compreende todos os salvos, sem referência a tempo ou espaço, isto é, todos quantos, no propósito de Deus, são redimidos por virtude do sangue derramado do Senhor Jesus e nasceram de novo pela operação de seu Espírito. Essa é a igreja universal, a igreja de Deus, o Corpo de Cristo.

A igreja é puramente um organismo. A igreja local é uma organização, o que se vê pelo fato de que presbíteros e diáconos desempenham ofício nela. É composta de todos os “convocados reunidos em um só lugar para adoração, oração, companheirismo e ministério, e isto é absolutamente essencial à vida de uma igreja” (W. M. Nee).

Numa determinada localidade, embora os cristãos regenerados estejam reunidos em vários lugares, são eles a igreja de Cristo e devem expressar o propósito para o qual foram constituídos nele, manifestando e implantando o Seu reino entre os homens por meio da proclamação do Evangelho (Mc 15.18).

Características de uma comunidade local

Pluralidade de uma liderança de homens santos de Deus

Há sabedoria nos muitos conselheiros (Pv 11.14). São os presbíteros que devem liderar e alimentar o rebanho. O verbo, no original grego, tem sentindo plural: “… aqueles cujo trabalho é a pregação e o ensino” (1 Tm. 5.17)

O texto de Hebreus 13.7 nos orienta a lembrarmos dos guias, daqueles que pregam e ensinam a Palavra (eles vigiam as almas, ensinam a igreja, são o exemplo).

O líder deve pastorear o rebanho de Deus não como dono ou senhor, mas como servo e modelo (1 Pe. 5.1-3). Ele deve ser:

∙ Irrepreensível: não deve ter nada em sua vida que i possa acusar.

∙ Esposo de uma só mulher: homem devotado à mulher que é sua esposa.

∙ Sóbrio (temperante): tem uma visão clara e equilibrada da vida. É espiritualmente forte. Não é fútil.

∙ Modesto: disciplinado nos seus gastos.

∙ Hospitaleiro: ama os estranhos (é o sentido que está no original grego). “Seu cristianismo está na vitrine”.

∙ Apto para ensinar: capacitado para o ensino (ajudador).

∙ Não dado ao vinho: mantém o controle dos seus sentidos. É gentil, livre do amor ao dinheiro, toma cuidado da sua casa; tem filhos sob sua disciplina; tem boa reputação para os incrédulos; não é neófito. Este é o padrão, é o alvo.

Os alvos funcionais da liderança

Os líderes devem saber o que fazer e como fazer. A prioridade deve ser a multiplicação e a edificação. Edificar para multiplicar e vice-versa. Não ter alvos é como jogar futebol sem traves ou basquete sem as cestas.

Paulo tinha uma visão especial da Espanha, porém nunca chegou até lá. É bom termos planos que dependem somente de Deus (Rm. 15.23).

O livro de Atos 16.6 descreve Paulo em sua segunda viagem missionária para a Ásia Menor, quando Barnabé também o acompanhava. Ele traçou planos para chegar até lá, porém o Espírito Santo mudou os planos e a direção da sua viagem. E depois de ir para Trôade, recebeu uma visão para passar à Macedônia e ajudar os que lá estavam.

O importante é planejarmos em oração para que nossos planos sejam o resultado do propósito e da revelação de Deus (Pv. 16.9). Nossos planos devem expressar Sua vontade (Fp. 2.13).

Pregação e ensino das Escrituras

O púlpito deve determinar o ritmo do que está acontecendo na igreja local. A pregação deve consistir em conteúdo eminentemente bíblico, enfatizando a exposição sistemática das Escrituras. A mensagem expositiva de livros da Bíblia é altamente recomendável. A pregação consiste na ciência da interpretação bíblica e na arte de sua comunicação. Não é um espetáculo de emoções, mas a proclamação de todo o conselho de Deus e de Seu eterno propósito (Ef. 1.4 e Rm. 8.29).

A proclamação sistemática da obra do Calvário, da inclusão dos homens na morte e na ressurreição de Cristo, é fundamental. Este é o Evangelho que produz o nascimento de uma nova criatura com a capacidade de expressar todo o propósito de Deus para o homem (1Co. 1.17-25, 2.1-5,15.1-4; Tg 1.18).

Ênfase no discipulado bíblico (Mt. 28.19-20)

A comunidade local bem-sucedida é aquela capaz de experimentar, como fruto da multiplicação, a edificação. O princípio básico está registrado em 2 Timóteo 2.2: “E as palavras que me ouviu dizer na presença de muitas outras testemunhas, confie-as a homens fiéis que sejam também capazes de ensinar outros”. Aqui temos quatro gerações sendo alcançadas.

Em Efésios 4.11-13 o objetivo é fazer do ensino o instrumento para levar as pessoas à maturidade em Cristo. Em 1 Tessalonicenses 1.2-10 lemos que os cristãos de Tessalônica tornaram-se modelo para os demais quando passaram a ser imitadores de Paulo e do Senhor Jesus depois de terem recebido a eterna Palavra de Deus.

Em 1 Coríntios 4.14-21 Paulo admoesta os cristãos de Corinto, exortando-os e repreendendo-os com a autoridade própria de um pai. Eles haviam trazido a bagagem de uma vida velha para dentro da igreja: debates, filosofias, diálogos, desafio mental etc.., bem como o orgulho e a imoralidade que eram as marcas dos gregos de Corinto. No verso 15 Paulo apresenta o padrão para se tornarem discípulos de Jesus: “Eu falo isto pois sou o pai de vocês. Vocês são meus filhos, meus discípulos”.

∙ Responsabilidades de um cristão maduro em Cristo

1. Gerar filhos (1Co. 4.14-15): em 1 Timóteo 1.2 e Tito 1.4 Paulo declara a sua relação pessoal com os seus filhos em Cristo.

2. Amar os filhos (1Co. 4.14): a motivação da repreensão é o amor. A palavra utilizada no original é agapeta, que se refere à maior expressão de amor na língua grega.

Em João 13.1-34 Jesus demonstra que o amor não é uma mera emoção, mas uma atitude que expressa em atos concretos a nova natureza em Cristo. É serviço sacrificial, com o intuito de suprir a necessidade de alguém.

3. Admoestar os filhos (1Co. 4.14): o verdadeiro amor sempre admoesta, adverte, recomenda, pois a preocupação é com o que pode ferir as pessoas. Admoestar é avisar alguém do perigo que está correndo ou do juízo que está chegando.

4. Ser exemplo (1Co. 4.16: 1 Pe. 5.3): as pessoas aprendem muito mais com os exemplos práticos do que com meros conceitos místicos. O melhor ensinamento é ser modelo diante do povo. A palavra-chave é integridade, ou seja, é viver uma vida irrepreensível.

5. Ensinar (1Co. 4.17): o ministério básico da igreja de Deus é o ensino. Da mesma forma, como líderes, somos desafiados a ensinar não pensamentos filosóficos e altamente intelectuais, mas todo “o conselho de Deus”, formando discípulos parecidos com Jesus (Cl. 1.28 e At. 20.27).

O objetivo do ensino não é o legalismo ou a maneira de se comportar dessa ou daquela forma, mas o de realçar a expressão da vida ressurreta de Cristo que opera em nós eficazmente. A questão é de causa e efeito.

6. Disciplinar (1Co. 4.18-21): Paulo adverte que disciplinaria, até mesmo com vara se necessário, os que falavam muito e não viviam verdadeiramente o que professavam. Para isso, ele enviou seu filho Timóteo para representá-lo como um verdadeiro discípulo (2Tm. 1.4 e 2.26).

*Trecho do livro "Apascentai o Rebanho", do pastor Carlos Alberto Bezerra, publicado pela Editora Fôlego

Você sabe por que a leitura bíblica deve ser prioridade em nossas igrejas locais e no ensino dos discípulos de Jesus?