“Jesus lhes propôs outra parábola, dizendo: — O Reino dos Céus é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo. Mas, enquanto todos estavam dormindo, veio o inimigo dele, semeou o joio no meio do trigo e foi embora. E, quando as plantas cresceram e produziram fruto, apareceu também o joio. Então os servos do dono da casa chegaram e disseram: “Patrão, o senhor não semeou boa semente no seu campo? De onde, então, vem o joio?” Ele, porém, lhes respondeu: “Um inimigo fez isso.” Mas os servos lhe perguntaram: “O senhor quer que a gente vá e arranque o joio?” O dono da casa respondeu: “Não! Porque, ao separar o joio, vocês poderão arrancar também com ele o trigo. Deixem que cresçam juntos até a colheita. E, no tempo da colheita, direi aos ceifeiros: ‘Ajuntem primeiro o joio e amarrem-no em feixes para ser queimado; mas recolham o trigo no meu celeiro.’” Mateus 13,24-30

O Reino dos Céus pode ser comparado a um homem que semeou boa semente. O Reino dos Céus se pode comparar a um grãozinho de mostarda. O Reino dos Céus pode ser comparado ao fermento. Bastam estas três iniciais das três parábolas para nos fazer compreender que Jesus nos está falando de um Reino do Céus que se encontra, porém, sobre a terra. Somente na terra, com efeito, há lugar para o joio e para o crescimento; somente na terra há uma massa que deve fermentar. No Reino final nada de tudo isso, mas somente Deus que será tudo em todos.

Jesus traça, portanto, a situação da Igreja na história. São três parábolas essenciais para compreender a natureza, a missão e o destino da Igreja.

A parábola do grão de mostarda (Mt 13,31-32) que se torna logo uma árvore indica o crescimento do Reino de Deus sobre a terra. Em suas origens, ele era de verdade um grãozinho. Identificava-se, com efeito, com o próprio Jesus, “o grão de trigo caído na terra e morto”. Mas daquele grão caído nasceu uma espiga, nasceu um corpo inteiro, isto é, a Igreja. Ela cresce irrigada pela Palavra de Deus e pelo sangue do testemunho apostólico. Torna-se, rapidamente, uma árvore gigantesca que estende seus ramos sobre todo o mundo então conhecido. Povos inteiros, como passarinhos, vêm pousar sobre seus ramos; recebem o Batismo e se tornam, eles mesmos, ramos de árvores. Nós também somos do número daqueles pássaros que vieram abrigar-se entre os ramos da grande árvore que é o Reino dos Céus.

A parábola do fermento (Mt 13,33-35) também aponta para o crescimento do Reino: mas um crescimento diferente – não tanto em extensão, mas em intensidade. Mostra a força transformadora que ele tem até renovar tudo e formar da massa inerte dos homens “pães de proposição”, ou seja, pães para serem apresentados a Deus. O fermento é por excelência a força do Espírito que age no interior do Reino. São Paulo, na epístola aos Romanos, no-lo mostrou agindo no coração dos cristãos, lá onde começa toda a verdadeira fermentação e toda a renovação. É Ele que com seu poder cria o homem novo, feito à imagem de Cristo ressuscitado.

“Da mesma maneira, também o Espírito nos ajuda em nossa fraqueza. Porque não sabemos orar como convém, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. E aquele que sonda os corações sabe qual é a mente do Espírito, porque intercede pelos santos de acordo com a vontade de Deus” Romanos 8,26-27.

Estas parábolas foram entendidas facilmente pelos discípulos. Não, porém, aquela do joio; pois, deixada a multidão, quando sozinhos em casa, eles pediram a Jesus: Explica-nos a parábola do joio no campo. Jesus explicou a parábola; disse que o semeador era ele mesmo, a semente boa, os filhos do reino, a semente má, os filhos do maligno, o campo, o mundo e a colheita, o fim do mundo,

“O campo é o mundo”: esta frase, na antiguidade cristã, foi objeto de uma célebre discussão que é muito importante ter presente hoje. Havia alguns homens de uma seita (os donatistas) que resolviam o problema de uma maneira simplista: de um lado, a Igreja, feita toda e somente de pessoas boas; do outro, o mundo cheio de filhos do maligno, sem esperança de salvação. A Igreja estaria no mundo como um “jardim fechado”; ou antes, como a arca de Noé, na qual somente para alguns poucos há salvação neste naufrágio geral. Venceu, porém, o pensamento de Santo Agostinho, que era o pensamento da Igreja universal. A própria Igreja é um campo, dentro da qual crescem junto trigo e joio, bons e maus. “Quantas ovelhas que estão fora e quantos lobos que estão dentro!” – exclamava Santo Agostinho. O mundo não se divide em filhos das trevas e filhos da luz; pelo certo, somos todos filhos das trevas, todos somos joio, destinados, porém – se o quisermos – a nos tornar filhos da luz e trigo bom, acolhendo o Reino e convertendo-nos. Nada de fixo e de fatal, nada de castas de pessoas eleitas e condenadas.

O campo é, sim, o mundo, mas é também a Igreja: lugar em que há espaço para crescer, converter-se e, sobretudo, para imitar a paciência de Deus. “Os maus existem no mundo, ou para que se convertam, ou para que por eles os bons exercitem a paciência” (Santo Agostinho). 

Falávamos da paciência de Deus. É este, com efeito, o grande tema da parábola e da reflexão de hoje. A paciência de Deus não é simples serenidade, isto é, ficar aguardando o dia do juízo para depois punir com maior satisfação. Esta é, muitas vezes, a falsa paciência do ser-humano. A de Deus é longanimidade, é misericórdia, é vontade de salvar. “Ou será que você despreza a riqueza da bondade, da tolerância e da paciência de Deus, ignorando que a bondade de Deus é que leva você ao arrependimento?” (Rm 2,4). Ele é, de verdade, como cantou o salmista “Mas tu, Senhor, és Deus compassivo e bondoso, tardio em irar-se e grande em misericórdia e fidelidade” (Sl 86,15)

No Reino deste Deus não há lugar, por isso, para servos impacientes, para pessoas que só sabem invocar os castigos de Deus e mostrar-lhe, vez por vez, a quem deve fulminar. A dois discípulos que lhe pediam um dia fazer chover fogo do céu sobre aqueles que os tinha rejeitado, Jesus disse: “Não sabeis de que espírito sois animados” (Lc 9,55). A mesma repreensão, talvez, Jesus poderia fazer a alguns de nós demasiado zelosos em exigir justiça, castigos e vinganças contra aqueles que consideramos o joio do mundo. O silêncio e a paciência de Deus chegam quase a nos escandalizar.

Também para nós a paciência do dono do campo deve ser vista como modelo. Devemos esperar a colheita, mas não como aqueles servos impacientes, com a ceifadeira em punho, segurados à força, como se quiséssemos ver o rosto dos maus no dia do juízo. Ao invés, como pessoas que não estão absolutamente seguros de ser, elas mesmas, grãos de qualidade, mas também joio.

É um apelo à humildade, à misericórdia que se irradia, portanto, da parábola evangélica. Um apelo muito concreto que podemos, se quisermos, começar a praticar logo que concluirmos essa reflexão. Se há alguém que errou, que no próximo encontro ele possa ver em novos olhos que estamos reconciliados com ele, que não o condenamos mais, porque a Palavra de Deus nos fez cair a ceifadeira da mão.

Todos nós, já vimos, somos trigo e joio ao mesmo tempo. Um apenas foi somente trigo sem joio, isto é, sem pecado: aquele Grão que um dia caiu na terra e morreu. Agora aquele Grão, transformado em Pão, vem a nós para se tornar trigo de Deus.

Ao ser questionado pelos empregados se deveriam arrancar o joio semeado pelo inimigo, o dono da plantação responde negativamente: “Não! Pode acontecer que, arrancando o joio, arranqueis também o trigo” (v. 29).

A resposta é surpreendente. O que Jesus está querendo nos ensinar com essa reflexão? Em primeiro lugar, que sempre haverá maldade no mundo. Não queiramos, pois, criar um paraíso terreno. Os que tentaram fazê-lo conseguiram criar um inferno. É utopia querer neste mundo justiça completa. Os “justiceiros” não raro acabam como genocidas. Já morreram milhões por causa das utopias de homens que quiseram o Céu na terra!

Os que promovem ideologias utópicas, no fim das contas, julgam os outros — os “verdadeiros maus” — com excessiva facilidade. Nosso Senhor, porém, adverte contra a imprecisão dos juízos temerários: “Pode acontecer que, arrancando o joio, arranqueis também o trigo”. Por isso, antes de dar sentença contra este ou aquele, precisamos permanecer vigilantes sobre nós mesmos, nesta luta interior em que realmente se decide se somos trigo de Deus ou joio do demônio.

Então, o que é possível esperar, se não podemos esperar uma utopia? Nós podemos esperar ter forças morais, isto é, podemos esperar a ajuda da graça, a força espiritual que vem de Deus para nos opormos à maldade, dentro e fora de nós, até o fim.

Encontramos três lições presentes no comentário de Santo Tomás de Aquino a São Mateus. Antes de tudo, por que Deus não arranca o joio? Porque o trigo de Deus, ou seja, os justos precisam crescer em virtude combatendo pacientemente a maldade. O joio, isto é, os maus existem neste mundo para que os justos manifestem sua virtude e cresçam. A criança, quando entra em contato com sujeira, cria anticorpos, ou seja, resistência. Do mesmo modo, podemos dizer que Deus permite o mal porque é na paciência que os bons se fortalecem. Primeiro ponto, em resumo: Deus permite o joio para que o trigo cresça em virtude, tenha anticorpos e aprenda a amar. 

Segundo ponto: na história da Igreja, pessoas más podem tornar-se boas, ou seja, há joio que vira trigo. Santo Tomás de Aquino recorda a esse propósito o exemplo de São Paulo. Se Deus tivesse punido Saulo antes de ele se converter, não teríamos o grande Doutor dos gentios e toda a sua doutrina. O que seria de nós sem os ensinos de Paulo! 

Terceiro ponto: porque o nosso juízo é muito limitado, por isso tendemos a nos precipitar e, temerários, a julgar maus os que são bons, arrogando-nos um conhecimento dos corações que é próprio de Deus. Quanto a isso vale a pena recordar outras palavras de São Paulo, ao reconhecer que não julga nem a si próprio: “Mas a mim pouco importa ser julgado por vocês ou por um tribunal humano; nem eu julgo a mim mesmo. Porque a consciência não me acusa de nada. Mas nem por isso me dou por justificado, pois quem me julga é o Senhor.” (1Co 4, 3-4).

Passemos outra vez em revista. Por que Deus não erradica o joio da Igreja? Primeiro, porque conviver com o joio exercita a paciência, o amor, a fortaleza e a confiança em Deus dos que são trigo. Segundo, porque há joio que vai virar trigo, tem joio que vai virar trigo e Deus nos livre que eles não tenham tempo de virar, que um São Paulo não tenha tempo de se converter, que um Santo Agostinho não tenha tempo de se converter. Terceiro, o nosso juízo é muito frágil. Devemos, sim, fazer exame de consciência, mas sabendo que é Deus o juiz definitivo.

Diante disso, o que podemos concluir? Que Jesus fez uma parábola sobre o que é, de certo modo, a história da Igreja, também ela envolta em um dos maiores mistérios de todos: o mistério de Judas. Como é possível que na Igreja de Deus haja joio como Judas? Não é um mistério que Jesus tenha tolerado pacientemente a presença dele entre os Apóstolos? Quando foi escolhido, Judas tinha fé, ou seja, ainda era trigo; mas o inimigo foi semeando a iniquidade e a maldade em seu coração, até ele se transformar em joio.

Apesar disso, Jesus suportou-o. Por quê? A parábola nos faz entender um pouco desse mistério, servindo-nos como um foco de luz que não nos deixa perder a confiança em Nosso Senhor. Por que Deus permitiu um Judas dentro da Igreja? I) Para que, pela presença dele, os Apóstolos tivessem ocasião de crescer em virtude; II) porque ainda havia tempo de ele se converter, como ocorreu com Pedro, que também traíra o Mestre; III) porque não queria que os Apóstolos se precipitassem em seus juízos, mas confiassem tudo ao parecer do justo Juiz, o único que conhece o íntimo dos corações.

Portanto, enquanto não saem dos limites deste mundo, devemos aprender com Deus a paciência, como arte do discernimento, para não perder o trigo com a pressa de afastar o mal na luta contra a contaminação. Deus é paciente, sabe esperar o tempo certo para que o trigo se mostre com todo o seu esplendor, como o justo no reino do Pai e o joio se possa purificar e tornar-se trigo para que nada se perca na fornalha ardente.

No juízo final, os anjos e não os homens, saberão distinguir o trigo do joio. Até lá os Filhos do Reino contam com o auxílio do Espírito Santo que nos foi dado quando foi derramado em nossos corações no batismo.

Que maravilha saber que não serei julgado por um ignorante, mas estarei nas mãos misericordiosas e amorosas de Nosso Senhor! É grande a alegria de ser julgado pelo Deus de bondade! Vivamos a parábola do joio e do trigo em nossos corações, certos de sermos amados e julgados pelo único que é Bom.

Semente boa lançada à terra pelas tuas santas mãos Senhor, corro todos os dias o risco de me tornar joio, erva contaminada que perde a imagem clara da tua misericórdia e o esplendor da glória que me deste ao tornar-me filho, nas águas do batismo. Envia, Senhor, o teu Espírito para que venha em meu auxílio, fortaleça a minha vontade e determine as minhas ações para que os anjos me encontrem trigo limpo para o teu celeiro.