A igreja por natureza é evangelizadora. A boa notícia, em meio aos desafios da vida, é que o Reino de Deus está próximo. Evangelizar é a vida prática da igreja; é testemunhar (martyria) mais que pregar, mais que fazer coisas para uma instituição. A conversão ocorre pela graça de Deus por meio daquele que crê no Cristo.

Já na primeira aliança com Abraão (Gn 12) o propósito é de abençoar todos os povos da Terra. Mesmo sem o proselitismo judeu, pois a nação de Israel vive e julgam ser mais importante a vivência do que o anúncio. A missão seguiu em cada geração; mesmo como escravos foram referenciais. Os patriarcas, juízes e profetas viveram na dependência da Aliança com Deus. Então tratou-se como mais do que prestar um serviço como num contrato; é compreender que faz parte de algo especial e desenvolver um relacionamento. Ser amigo e então partilhar, cuidar, zelar, obedecer, ser fiel. Como em todo relacionamento, Israel passou por graves crises institucionais e espirituais como a destruição do templo de Israel pelos babilônios. Tudo estava centralizado no Templo; como explicar a promessa de que Deus nunca abandonaria seu povo. Os profetas precisaram fazer uma releitura. Assim foi a revelação de Isaías 6; a visão mostra que a glória de Deus acompanha cada judeu onde ele estiver. A “Shekiná” é itinerante; a presença de Deus estará onde o crente estiver. Assim aprendem que esse estado de graça não é ligado a um lugar mas a uma condição, a Aliança.

Vemos nos textos de cativeiro babilônico e após esse período que o povo cresce, prospera, é abençoado. São convencidos que a Lei está escrita no coração, em suas consciências, que aos que perseverarem em manter a aliança, serão assistidos e conduzidos por um novo caminho.

Na plenitude dos tempos com a encarnação do Verbo, Jesus vai revelar que Ele é o templo vivo, que mesmo que seu corpo fosse destruído em três dias seria reconstruído. O apóstolo Paulo revelará que a igreja é templo vivo e cada cristão é uma pedra viva da casa de Deus. Então Cristo juntamente com o Pai e o Espírito Santo é habitado no povo de Deus em sua imanência divina (inseparavelmente presente – *). E nós, sendo filhos do Filho, que encarnou, sofreu a paixão, morte, ressurreição e glorificação, podemos viver a vida de Deus.

É interessante por exemplo quando vemos em Isaías 9 que o profeta recebe a missão de proclamar que o Messias virá, que “o povo que andava nas trevas viu uma grande luz”, brilhou nas trevas; uma luz para iluminar as nações. Aqui vemos que Israel tem um chamado específico para levar a “Boa notícia”, de levar a mensagem de um Deus real, que não é de pedra, de madeira, morto, feito por mãos humanas, mas o Criador de todas as coisas e Aquele que sustenta o Universo.

*termo que se utiliza na filosofia para designar aquilo que é inerente a algum ser ou que se encontra unido, de forma inseparável, à sua essência. … Deus, neste sentido, é causa imanente

Um Deus que tudo pode, que é acessível pela Aliança feita com Abraão, agora deseja também comunicar-se com os pagãos.

“Ouçam-me, vocês em terras distantes! Prestem atenção, vocês que estão longe! O Senhor me chamou antes de meu nascimento; desde o ventre ele me chamou pelo nome. Tornou minhas palavras de juízo afiadas como espada, escondeu-me na sombra de sua mão; sou como flecha afiada em sua aljava. Ele me disse: “Você é meu servo, Israel, e me trará glória.

“Agora, fala o Senhor, aquele que no ventre me formou para ser seu servo, que me encarregou de trazer Israel de volta para ele. O Senhor me honrou, meu Deus me fortaleceu. Ele diz: “Você fará mais que restaurar o povo de Israel para mim; eu o farei luz para os gentios, e você levará minha salvação aos confins da terra”.” Isaías‬ 49:1-3‬, 5,6‬

Então, a primeira missão de anúncio, de Boa-Nova, foi dada ao povo judeu. Os patriarcas, juízes, reis e profetas, e até mesmo por anjos, Deus vai mostrar que a Sua vontade é abençoar a todos.

Já no Novo Testamento, a plenitude dos tempos com a 1a vinda do Senhor, desde o evento da encarnação; o primeiro anúncio é feito por um anjo, Gabriel, a Maria que precisou como Eva, fazer uma escolha; vivendo por fé, obedecer e ser fiel mesmo não compreendendo, ou quebrar a aliança. Depois anjos aparecem para os pastores de ovelhas:

“mas o anjo lhes disse: “Não tenham medo! Trago boas notícias, que darão grande alegria a todo o povo. Hoje em Belém, a cidade de Davi, nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor! De repente, juntou-se ao anjo uma grande multidão do exército celestial, louvando a Deus e dizendo: “Glória a Deus nos mais altos céus, e paz na terra àqueles de que Deus se agrada!”.” Lucas‬ 2:10-11, 13-14‬ ‬‬

O que aprendemos? Anunciar o evangelho, para a Igreja, sempre foi um anúncio do céu. Sempre uma notícia que vêm do Alto; não uma mensagem minha ou tua mas um mandato do próprio Deus que é confiado aos Anjos.

Assim, o nascimento de Jesus é Evangelho, a vida oculta de Jesus já é evangelho, porque Ele nos ensina como anunciar vivendo trinta anos e pregando somente três; o grande desafio que tornou-se um grave problema atualmente que é primeiro pregar para depois viver. A história da Igreja mostra que um lugar, um povo, só mudou quando aconteceu um processo de inculturação. O que é a inculturação senão a “kenosis”, descer até o povo para compreender, vivendo, o que está ao seu redor e as nuances (pormenores, variantes, particularidades) da realidade de um povo.

Desse modo Jesus começa a pregar a chegada do Reino à casa de Israel; ao abrir mão das prerrogativas de sua natureza divina e vivendo plenamente a natureza humana, após a conformação à Lei que culmina com o Batismo, passa por dura provação (Lc 4:1-14). Vivendo o evangelho Jesus estava cheio do Espírito (Lc 4:1) para enfrentar toda oposição, e ao ser aprovado sai do deserto no poder do Espírito Santo (Lc 4:14). Só então Ele começa a pregar, e chama 12 discípulos, depois 72 para que possam ir de dois em dois e evangelizar.

Portanto, o germe missionário da Igreja está ligado ao anúncio de Jesus. Anúncio de Jesus que é algo profundo, simples e sem meia palavras. O anúncio é: “Chegou o tempo, convertei-vos e crede no Evangelho. Existe salvação para você, existe salvação para o seu pecado. Existe um Deus presente que abraça leproso, glutão, beberrão, adúltero, corrupto, … Existe um Deus-Homem, encarnado, vivo e presente que pode salvá-lo.

O Evangelho têm esse poder de tornar-se vida porque ele não é somente um anúncio de uma ideologia, nem somente de uma doutrina; o Evangelho é o anúncio de uma Pessoa, anúncio de um Reino. É a revelação de que o Deus que os criou, que os formou, quer habitar no meio do seu povo.

A palavra do profeta Isaías que diz “Eu te fiz luz para as nações” você vai encontrar ressonância no Novo Testamento, no momento que antecedeu a ascensão do Senhor Jesus, em Atos 13:47 e nos sinóticos, em Marcos 16:15, de maneira especial.

“Pois foi isso que o Senhor nos ordenou quando disse: ‘Fiz de você uma luz para os gentios, para levar a salvação até os lugares mais distantes da terra’”.” Atos‬ 13:47‬‬

“Jesus lhes disse: “Vão ao mundo inteiro e anunciem as boas-novas a todos.” Marcos‬ 16:15‬ ‬‬

É vontade de Deus que a mensagem do Evangelho seja levada pelos discípulos para além de Jerusalém, além do povo judeu. Pelo Espírito Santo os cristãos, os batizados e aliançados são guiados para irem aos lugares mais distantes da terra. Já em Pentecostes, na descida do Espírito Santo, no primeiro anúncio de Pedro a um auditório que representava várias nações, convida à conversão, dizendo a eles que apesar de todos os pecados, aqueles que se arrependerem, tem o direito de tornarem-se filhos de Deus.

A Igreja começa com esse anúncio do céu mas já desde seu início vemos que há perseguição, humilhação, opressão; e toda vez que isso ocorreu em sua história ela cresceu. Dizia Tertuliano (160 – 220 d.C.), “O sangue das testemunhas (martyria, gr – mártires) é semente da igreja.

É interessante quando se olha para a natureza da Igreja; ela é esposa, íntima, mas anunciadora. É Maria Madalena que vai anunciar aos discípulos que Jesus ressuscitou; é a Mulher samaritana que vai anunciar a sua comunidade que ela encontrou o Messias. São imagens da igreja que tiveram um encontro e que leva essa vivência a outros. Por isso o apóstolo Paulo declarou: “Não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê: primeiro do judeu, depois do grego.”.

Já o salmo 105:1 revela essa verdade: “Deem graças ao Senhor e proclamem seu nome; anunciem entre os povos o que ele tem feito.”

Existe já no Antigo Testamento; que essa vivência com o Eterno seja conhecido pelas Nações.

Também o apóstolo Pedro exorta em sua 1ª carta, capítulo 3:15:
“pelo contrário, santifiquem a Cristo, como Senhor, no seu coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que pedir razão da esperança que vocês têm.”

Qual é a razão da sua esperança? Qual é a razão da esperança da Igreja?

Sendo essa virtude um dom infuso pelo Espírito, precisamos desenvolver a fé pelo Evangelho crendo numa vida nova, regenerada, que transforma tudo de dentro para fora tornando o mundo melhor; e o essencial, nos dá salvação, paz com Deus e adoção como filhos.

A Alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria.

Assim, a missão da Igreja é fazer Cristo conhecido. Eu e você somos chamados a viver o Evangelho, a permear toda a nossa vida da alegria que vem do Senhor para então testemunhar a esta geração que há salvação, há esperança de uma vida abundante, plena de significados e propósitos.