“Tenham entre vocês o mesmo modo de pensar de Cristo Jesus, que, mesmo existindo na forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus algo que deveria ser retido a qualquer custo. Pelo contrário, ele se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se semelhante aos seres humanos. E, reconhecido em figura humana, ele se humilhou, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz. Por isso também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome,” Fp 2:5-9

Nessa epistola o apóstolo Paulo revela três características e quatro atributos indispensáveis na ação pastoral: pregação, discipulado, aconselhamento; em qualquer dinâmica de serviço e missão, quer seja o anúncio do evangelho (querigma, grego) o testemunho (martyria), momentos de comunhão (koinonia) e no serviço (diaconia) a abordagem deve respeitar essas virtudes vividas pelo Senhor Jesus.

Lembremos sempre que quando Paulo pensava e falava de Jesus seu interesse, intenção e propósito não eram em primeiro termo intelectuais e especulativos, mas sim eram sempre práticos. Em Paulo sempre se unem teologia e ação. Para ele, todo sistema de pensamento deve necessariamente converter-se num caminho de vida.

Em muitos aspectos é um dos que têm maior alcance teológico do Novo Testamento, mas toda sua intenção está em persuadir e impulsionar os filipenses a viver uma vida livre de desunião, desarmonia e ambição pessoal.

Paulo diz, pois, que Jesus se humilhou, fez-se obediente até a morte, até o extremo de uma morte na cruz. As grandes características da vida de Jesus foram humildade, obediência e renúncia de si mesmo.

Não desejou dominar o homem, mas sim apenas servi-lo. Não desejou seu próprio caminho, mas sim o de Deus. Não desejou sua própria exaltação, mas sim a renúncia a toda glória pelo bem do homem. O Novo Testamento assegura várias vezes que só aquele que se humilha será exaltado (Mateus 23:12: Lucas 14:11; 18:14). Se a humildade, a obediência e a renúncia de si são as características supremas da vida de Jesus Cristo, também devem ser os sinais de autenticidade do cristão, porque este deve ser como seu Senhor. Tanto a grandeza cristã como a unidade cristã dependem da renúncia de si mesmo; destroem-se pela própria exaltação. O egoísmo, a busca e a exibição de si destroem a semelhança com Cristo e nossa comunhão uns com outros.

O bem essencial do homem – isto é, o seu verdadeiro ser humano – reside no fato de a razão que se aperfeiçoa no conhecimento da verdade, modelar e informar interiormente o seu querer e a sua ação. Pois só pode proceder bem que sabe como as coisas são e como se relacionam. Na medida que se permite que o Espírito Santo o torne humilde, obediente e desprendido, então o cristão receberá os atributos basilares da vida em comunidade.

O primeiro atributo revelado pelo apóstolo é que a missão é um ministério, um servir em amor;

Começa por conhecer a verdade, sendo conhecido e chamado por ela. Conhecer o Amor. Jesus ganhou os corações dos homens não se exaltando diante deles com seu poder, mas sim lhes mostrando amor, sacrificando-se e negando-se a si mesmo por eles. Isto comove o coração humano. À vista de alguém que deixa a glória pelos homens e os ama até o extremo de morrer na cruz por eles, o coração do homem se enternece e se quebra toda resistência.

Quando os homens rendem culto a Jesus não se jogam a seus pés com uma esmagadora submissão, mas com um amor maravilhado. A pessoa não diz: “Não posso resistir a um poder como este”, mas sim: “Um amor tão assombroso e tão divino exige toda minha alma e todo meu ser”. Não diz: “Fui reduzido e submetido”, mas sim: “Estou abismado no assombro, no amor e no louvor.” Não é o poder de Cristo que reduz ao homem e o submete; é o amor maravilhoso de Cristo que faz com que o homem se ajoelhe com um amor maravilhado. A adoração se baseia não no medo, mas no amor.

O segundo atributo revelado é que Jesus assumiu a nossa condição

Jesus inculturou-se na nossa realidade assumindo o que de fundamental há nela. Não confundir com diluir-se mas assemelhar-se a realidade antropológica e histórica (nasceu na Judeia, aprendeu a língua e costumes do povo judeu …), adaptando-se à cultura da época. Para servir precisou viver aquela realidade. “Me fazer tudo para todos” (1Co 9:22). Sem inculturação não haverá missão eficaz.

Um terceiro atributo que identificamos é que Jesus foi obediente ao Pai

O livro de Apocalipse diz que Ele é a “testemunha fiel” (Ap 1:5); como disse a Pilatos quando indagado se era rei disse: “eu vim para dar testemunho da verdade” (Jo 18:37). Houve uma obediência inegociável à origem. Então, qual é a origem do missionário (urbano ou transcultural)? A origem é a Igreja, o Cabeça e o Corpo de Cristo. Não nós vivermos mas Cristo viver em nós (Gl 2:20); pessoal e coletivamente.

É um princípio imutável, ser testemunha fiel (martírio, grego) de Jesus. Independe da perspectiva, mesmo num ambiente hostil (2Co 4:8,9; 1Pe 4:12-16; Jo 15:20; 2Tm 3:10-13; 2Co 12:10; Rm 8:35-37). Ser missionário da Trindade – fazer a vontade do Pai, ao viver o amor de Cristo na força do Espírito. Levar o Evangelho de Jesus, por amor ao Pai ao andar no Espírito. Isso é inegociável. Obedecer é cumprir o mandamento principal: amar Deus para amar o próximo.

O quarto atributo é a esperança escatológica

Esperança como dom de Deus, ação do Espírito Santo para os que vivem na fé do Cristo; uma graça infusa, derramada aos que buscam ser cheios do Espírito. Então seremos convencidos que Jesus foi exaltado pelo Pai – “um nome que está acima de todo nome”, ou seja, reconhecer que a kenosis (encarnação do Verbo) não veio de Israel porque inclusive o rejeitou e crucificou, não veio dos seus discípulos, porque um traiu, o outro negou e todos fugiram; o reconhecimento não veio deste mundo, ele veio do céu. Assim o quarto atributo é a esperança escatológica, teologal. Só a vivência desse atributo nos habilita a “viver, mover-se e trazer à existência (At 17:28) o reino de Deus” (Rm 14:17).

Assim, diante dessa assombrosa realidade e tamanho desafio, propomos a seguinte reflexão: Pregamos o evangelho com que motivação?

Sim porque Deus nos recompensará no céu, no Dia do juízo dos justos (2Tm 4:8; 2Jo 1:8; Mt 10:42).

Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou, esse receberá galardão; se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo” (1 Co 3.11-15).

Esta talvez seja a passagem mais notável de toda a Bíblia sobre o julgamento dos justos e os diferentes graus nesse julgamento.

O fundamento de toda fé e prática cristã é Jesus Cristo. “Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo.” Esse fundamento é a base de toda a fé salvífica, e também de toda boa obra gerada em Cristo, pelo Espírito Santo. A implicação dessa afirmação é: não há outra pessoa ou religião em todo o mundo, ou em qualquer outra época, pela qual alguém possa ser salvo ou pela qual se possa produzir boas obras aceitáveis a Deus, exceto por meio de Jesus Cristo, o Filho de Deus!

“Pois todos compareceremos perante o tribunal de Deus. Como está escrito: Por minha vida, diz o Senhor, diante de mim se dobrará todo joelho, e toda língua dará louvores a Deus. Assim, pois, cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus” (Rm 14.10-12).

“Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo. E assim, conhecendo o temor do Senhor, persuadimos os homens…” (2 Co 5.10,11).

“E eis que venho sem demora, e comigo está o galardão que tenho para retribuir a cada um segundo as suas obras” (Ap 22.12).

Devemos aqui distinguir entre fé salvífica e galardões, pois muitos cristãos professos estão no escuro quanto a essa diferença. Somos salvos pela fé em Cristo somente, sem qualquer mérito de nossas obras (Ef 2.8,9). Mas somos retribuídos de acordo com nossas obras, feitas no corpo antes da morte.

Fé salvífica é instantânea, enquanto boas obras são gradativas e acumulativas. A fé salvífica depende somente de Cristo para nos perdoar e nos purificar; boas obras devem ser geradas a partir de nossa fé salvífica de acordo com a nossa capacidade, conhecimento e zelo. A fé salvífica nos admite no reino celestial, mas as recompensas por boas obras determinarão nossa posição e classe no reino, além de nosso grau de glória e utilidade na era vindoura.

A fé salvífica é para esta vida presente, mas as recompensas nos serão dadas na Segunda Vinda de Cristo e no tribunal de Cristo.Todos somos salvos da mesma maneira, porém somos recompensados em graus diferentes, de acordo com nossas obras.

Diferentes materiais de construção

Observe os diferentes materiais que os cristãos utilizam para construir sobre o fundamento. Todos os que confiam somente em Cristo para salvá-los estão firmados no verdadeiro fundamento. Entretanto, há uma diferença na vida dos cristãos em razão dos tipos de materiais que usam para edificar e da qualidade de suas obras e suas recompensas.

O apóstolo menciona seis coisas que representam os diferentes materiais de construção, a saber: ouro, prata, pedras preciosas – que não podem ser atingidos pelo fogo; e, depois, madeira, feno e palha, que são totalmente combustíveis.

É muito evidente que todo cristão construirá sua vida nova de acordo com o grau da graça salvífica que possui e de acordo com o poder de suas motivações e intenções, sejam elas carnais, espirituais ou um pouco de ambas.

Observe nesta passagem que estamos examinando que, ainda que todos os cristãos edifiquem sobre Cristo, o fundamento verdadeiro, os materiais de sua construção, na maioria dos casos, são de caráter misto, em parte carnal e em parte espiritual. Essa mistura está presente em todos os aspectos da vida e do serviço cristão e só será revelada no dia do Juízo: o que foi feito de ouro, prata e pedras preciosas, e o que foi edificado de madeira, feno e palha.

Por exemplo, ministros cristãos que não são completamente purificados e iluminados pelo Espírito Santo colocarão em suas pregações elementos de verdade e de erro, de Cristo e de si mesmos, coisas do Espírito e coisas da carne; em certa medida procurarão glorificar a Cristo, mas, ao mesmo tempo, acabarão glorificando a si mesmos e promovendo sua própria honra, reputação e interesse pessoal. A mistura de sua experiência com Deus será, inevitavelmente, transmitida à sua pregação e a todo seu ministério pastoral.

Além disso, nas orações que os cristãos apresentam a Deus, há, na maioria dos casos, muito egoísmo misturado com o que é oração bíblica genuína; muitas orações estão carregadas de tantos elementos carnais que não conseguem subir ao céu.

Da mesma forma, no ensino que recebemos em livros e palestras bíblicas, há muita mistura de verdade e erro, de perversão da Palavra de Deus e da tendência de permitir que o credo religioso ou a teologia confessional da pessoa anule a verdadeira interpretação da Palavra de Deus.

Finalmente, em nossas motivações religiosas, pode haver um desejo genuíno de agradar a Deus, mas é muito comum encontrar, ao mesmo tempo, motivações egoístas nas nossas ações, na edificação de igrejas e instituições religiosas, no exercício de empreendimentos missionários e no treinamento de crianças, jovens, adultos e casais.

Obras claramente manifestadas

Somente quando o crente estiver diante do tribunal de Cristo é que haverá a separação entre o verdadeiro e o falso, entre o “eu”e Cristo. Será uma separação completa entre os elementos que contêm ouro, prata e pedras preciosas e os outros que contêm madeira, feno e palha.

Deus é o único que é capaz de olhar através desta enorme massa de vida religiosa, construção de caráter e trabalho cristão, e discernir quanto é do Espírito e quanto é da carne.

“… a obra de cada um se manifestará; na verdade o Dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um” (1 Co 3.13, ARC). Parece, por estas palavras, que a qualidade real da obra da vida inteira dos servos de Deus não será manifesta de forma clara e aberta até que esse julgamento dos santos aconteça.

É impossível para qualquer um de nós nesta vida entender todos os detalhes de nossas ações por causa da condição mista da nossa vida e por causa da enfermidade da nossa mente no estado atual. Nenhuma ação pode ser vista no tempo presente em sua plenitude, pois, por sua própria natureza, sempre há uma qualidade moral e espiritual invisível em cada uma impossível de ser conhecida nesta vida.

Quando os icebergs são vistos flutuando no oceano, nos dizem que cerca de nove décimos deles estão submersos e apenas um décimo é visível aos olhos. Isso pode servir para ilustrar a natureza de todas as nossas ações, a nossa conduta e as nossas palavras; enquanto uma parte de cada ato pode ser conhecida e avaliada em certa medida, a proporção maior de nossas ações e palavras continua submersa, por assim dizer, num mar espiritual. Sendo assim, nunca poderemos moldar ou medir todas as partes nem determinar por completo a magnitude de qualquer ação ou palavra.

Um mesmo ato pode ser executado por uma centena de pessoas diferentes e, consequentemente, possuir o mesmo número de variações de forma e grau de caráter. Por isso, o mesmo ato não receberá o mesmo grau de recompensa ou de punição para todas as pessoas, em virtude dessa qualidade individual e desconhecida que é imbuída no ato.

Vemos nesta passagem que o fogo tornará manifesta a obra de cada pessoa, revelando de que qualidade ela é.

Quando Ana, a mãe de Samuel, visitou Siló pela segunda vez e apresentou seu pequeno filho ao Senhor, ela proferiu uma profecia maravilhosa, na qual disse que Jeová era o Deus da sabedoria e que por ele todos os feitos eram pesados (1 Sm 2.3).

Essa é uma expressão maravilhosa – que Deus é capaz de pesar nossas ações, nossas palavras e nossos pensamentos e que manifestará aos outros a natureza e a qualidade específica de todas as ações e de toda a conduta.

“Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou, esse receberá galardão; se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo” (1 Co 3.14,15).

Esta passagem prova claramente que alguns daqueles que serão salvos sofrerão perda porque suas obras não foram feitas de acordo com a verdade da Escritura ou não foram realizadas no amor de Deus – e, por isso, essas obras serão queimadas.

Devemos lembrar que a salvação é uma coisa – e galardão é outra bem diferente. Que vasto incêndio ocorrerá no tribunal quando uma enorme quantidade de sermões errados, livros enganosos, orações egoístas, doações de dinheiro com motivações erradas e trabalhos religiosos será queimada porque foi feita usando madeira, feno e palha!

Muitos bons sermões, muitas canções lindas, muitas orações eloquentes, milhões de doações em dinheiro que foram dadas por motivos egoístas e orgulho sectário, muitos serviços realizados na carne serão totalmente destruídos e não receberão recompensa alguma porque não passarão pela prova do julgamento!

Não haverá recompensa para as obras daqueles que não passarem ilesas pelo fogo, pois o apóstolo diz: “Se permanecer a obra de alguém”– isto é, passar no teste do fogo –“esse receberá galardão” (1 Co 3.14).

O galardão corresponderá exatamente à qualidade da ação e também à magnitude ou ao peso da ação, à quantidade de amor divino, de sacrifício, de fé ou de perseverança que tenham sido imbuídas na ação.

Essas recompensas se estenderão desde as coisas mais insignificantes em nossa vida até às maiores. Jesus nos diz que será dado um galardão aos que oferecem um copo de água fria a outro em nome do Senhor Jesus (Mc 9.41).

A consideração dessas coisas certamente deve inspirar-nos à máxima devoção e a embutir em nosso trabalho de vida o máximo de Cristo e de sua verdade que pudermos!

Nada passará pelo tribunal de Cristo exceto o que é verdade perfeita e amor perfeito; somente essas coisas são adequadas para suportar as eras eternas que estão por vir:a luz e a verdade de Deus.

Então, note, nós não pregamos o evangelho por causa das pessoas e suas circunstâncias e motivações; pregamos porque Jesus nos mandou pregar. “Ide, e fazei discípulos…” Assim, se houver algum reconhecimento do homem, a glória deve ser dada a Ele, porque tudo vem por meio dEle. Se algum reconhecimento tivermos de receber, será o escatológico, aquele que vier do Senhor.