Especial Reforma: A Era das Ideologias
O período moderno e os recentes desafios da Igreja
No século XX aconteceram as colossais lutas de gigantes políticos e militares. Um novo paganismo apareceu em apelos às leis da economia, às paixões étnicas e aos direitos invioláveis dos indivíduos, e os cristãos foram forçados a sofrer, a pensar e a se unir de maneiras novas. A queda do Muro de Berlim sinaliza um declínio do poder das ideologias e o “novo” cristianismo emerge no Terceiro Mundo e se expande de modo assombroso.
A ascensão do comunismo na Europa e a Guerra Fria tiveram um impacto profundo na forma como a Igreja se posicionou em relação a questões sociais e políticas. Além disso, a Igreja também enfrentou desafios culturais e filosóficos, como o secularismo e o relativismo moral, que questionaram as verdades fundamentais da fé cristã.
O Iluminismo e o Racionalismo, que outrora haviam ameaçado eclipsar a fé, começaram a perder sua força. As cinzas amargas das duas Guerras Mundiais insuflaram ventos de mudança, abalando a confiança cega na supremacia da razão. Uma nova religiosidade brotou das cinzas, tecendo movimentos espirituais por todo o globo e gerando mudanças profundas na Igreja Católica Romana (Concílio Vaticano II), na Igreja Ortodoxa (com grupos na Europa Oriental, na África, no Oriente Médio, na Ásia e em alguns países ocidentais) e na Igreja Protestante.
Após a Segunda Guerra Mundial, o cristianismo evangélico ganhou notória proeminência pública nos Estados Unidos. Sua voz mais conhecida, Billy Graham, tornou-se um nome famoso por pregar a milhares de pessoas nos principais estádios do país, em transmissões regulares de rádio e em programas de televisão em rede nacional. A revista Decision, publicada por sua associação evangelística, era distribuída em milhões de lares. Após uma campanha evangelística bem-sucedida e bastante divulgada em Los Angeles (1949), a fama de Graham espalhou-se rapidamente e, em pouco tempo, ele estava conduzindo cruzadas em cidades ao redor do mundo.
O despertar evangélico ganhou reforço inesperado em 1960, vindo de outra fonte do cristianismo pessoal, o pentecostalismo. A experiência pentecostal “o batismo no Espírito Santo com a evidência do falar em línguas” não era nova. A fagulha do pentecostalismo do século XX foi um avivamento que durou três anos, iniciando em 1906 na missão da rua Azusa, em Los Angeles. Experiências pessoais de falar em línguas já haviam ocorrido anteriormente, mas a rua Azusa acendeu o pentecostalismo mundialmente. Cristãos de toda a América do Norte, da Europa e do Terceiro Mundo visitaram o lugar e levaram essa chama de volta para seus lares. As denominações pentecostais surgiram em seguida.
O desafio da continuidade
No passado, as atividades espirituais misturavam-se e influenciavam a cultura, a economia, a política e a comunicação. Hoje, a vida espiritual foi colocada na esfera do individual. Dessa forma, a secularização dá à luz um processo de descristianização.
Nesse cenário, o ethos (pensamento) moderno ganha vida, moldando as atitudes e concepções das pessoas, influenciando até mesmo as estruturas da sociedade. O homem moderno, iluminado pela razão, emerge como o protagonista de sua própria jornada. A busca pela emancipação e pelo progresso domina a cena, mas traz consigo ambiguidades, revelando que o progresso sem uma base ética pode se tornar uma ameaça.
Com a ascensão do secularismo, a sociedade vê-se imersa no relativismo ético-normativo, onde a multiplicidade de morais e perspectivas torna a fundamentação do juízo moral uma tarefa desafiadora. O individualismo prevalece, incentivando os indivíduos a buscarem dentro de si os critérios para determinar o que é certo e errado. O subjetivismo se entrelaça com a era da tecnologia e da informação, enquanto o consenso moral se torna uma ferramenta para evitar os extremos do individualismo.
No meio dessa complexa teia de mudanças, a mensagem cristã enfrenta a tarefa monumental de se fazer ouvida e relevante. Como transmitir a fé em um mundo onde o secularismo e o relativismo ético dominam? Como resgatar os valores morais em meio ao turbilhão de ideias? O desafio da continuidade se apresenta não apenas como uma questão teórica, mas como uma jornada prática para a igreja cristã contemporânea. Um chamado para se adaptar e redefinir sua abordagem, para encontrar um lugar não apenas nos corações individuais, mas também na complexa tapeçaria da sociedade moderna.
A falta de valores claros
Como um eco através das eras, a pergunta “o que é a verdade?” ecoou como um grito no deserto, expressando a incerteza que permeava a concepção contemporânea de verdade. E a resposta, um conjunto multifacetado de interpretações, tornou-se o tecido da era atual.
Uma cultura de crise emergiu, uma cultura onde a verdade estava dividida, reduzida e ideologizada. A humanidade estava à deriva, perdendo a unidade e integralidade da verdade.
A autonomia, a definição de identidade independente das normas externas, impulsionou uma revolução silenciosa contra tradições arraigadas. No entanto, sob a fachada de liberdade, esse indivíduo revelou-se frágil, vulnerável.
A busca por preenchimento levou-o ao consumismo desenfreado, à imitação cega da publicidade e à volatilidade influenciada pelas ondas do momento, sugeridas pelos meios de comunicação. No cerne de tudo isso, uma sensação de vazio, uma perda de sentido e obscurantismo racional.
Mas, em meio a essa crise, um fio de esperança se entrelaçava. A preocupação com a dignidade humana, questões ecológicas, econômicas, políticas e outras manifestava-se como um eco ético, um lembrete de que os valores não estavam completamente perdidos. A crise ética trouxe à tona a sensibilidade para questões morais.
A pós-modernidade, com sua valorização da subjetividade e emoções acima da razão, trouxe um homem imerso em liberdade, cercado de direitos que garantiam sua independência. Um homem parte do cosmos, livre de amarras ideológicas, experimentando a subjetividade e exigindo sua expressão.
No contexto religioso, o rompimento com a tradição e a busca por sentido no caos da fragmentação cultural abriram as portas para um pluralismo religioso. Em meio a essa busca por experiência e segurança, novas religiões encontraram terreno fértil, oferecendo respostas onde a sociedade moderna parecia falhar.
Nesse turbilhão de mudança e incerteza, a Igreja reconhece a legitimidade do pluralismo de opiniões, incentivando o diálogo sincero e a busca pelo bem comum. Enquanto as fundações tradicionais pareciam vacilar, a busca por significado persistia e lançava uma luz sobre a complexidade da busca humana por valores e verdade.
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