Se queremos, de fato, formar Cristo em outras pessoas, precisamos misturar nossas vidas com as delas. Não é, e nem pode ser, apenas teoria. A vida prática, o compartilhar, o partir o pão, isso faz toda a diferença na jornada de discipulado que Jesus nos chamou a viver e também a mostrar o caminho para outros.

Quando falamos sobre fazer discípulos, podemos pensar numa mistura de dois textos bíblicos:

“Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações. (…) Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado. Estes sinais acompanharão os que crerem: em meu nome expulsarão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal nenhum; imporão as mãos sobre os doentes, e estes ficarão curados” (Mt. 28.18-19 e Mc. 16.16-18).

Consegue imaginar a multidão de discípulos andando pelas ruas? Indo trabalhar ou estudar e desfrutando daquilo que Jesus nos deu gratuitamente. Consegue imaginar as pessoas comentando: “Se estiver doente, procura aquela pessoa, é um discípulo de Jesus”? Nesse cenário, os demônios não saberiam para onde fugir para se manifestar, porque em todo canto haveria um discípulo com autoridade para enviá-los ao abismo.

A missão dada por Jesus de fazermos discípulos trata-se de conduzir pessoas comuns a viver uma vida extraordinária.

Levá-las a compreender que agora não são mais pessoas comuns – ainda que continuem vivendo nesta terra –, mas que sobre elas repousa, de maneira sobrenatural, a divindade, o poder do Altíssimo. Diz respeito a emponderar homens e mulheres, despertá-los para a beleza da vida proposta em Cristo Jesus.

Muitas vezes, duvidamos de que possamos fazer isso. Mas a Bíblia diz que “o próprio Espírito testemunha ao nosso espírito que somos filhos de Deus” (Rm. 8.16). Se não fosse assim, qual teria sido a razão de Deus ter enviado Seu filho para morrer por nós?

Se não sentirmos verdadeiramente que o Espírito Santo testifica que somos filhos, nunca conseguiremos tomar posse do poder e autoridade que Jesus nos deu. Viveremos uma fé emocional, governada pelas circunstâncias.

Quando, como filhos, clamamos “Aba, Pai” (Rm. 8.15), não temos dificuldade em perdoar ninguém, não temos dificuldade em enxergar os outros como melhores do que nós ou, sequer, dar a vida por alguém. Porque o Espírito de quem deu a vida por nós rege nossas emoções, nossas ações, nossas palavras.

A parábola do Filho Pródigo (Lc. 15.11-32) nos ensina que a testificação do Espírito é o pai colocando uma roupa nova no seu filho, um anel e sandálias nos pés. De longe, as pessoas podiam ver que aquele não era só mais um, era o filho.

E é isso que Deus quer para nossa vida e a vida dos nossos discípulos, que as pessoas olhem e possam afirmar: “Vejam, esses são filhos de Deus”.

O poder e a autoridade dados por Jesus a nós devem ser transferidos para outras pessoas. Por bondade e misericórdia, Ele decidiu nos usar como instrumento de transferência. Como podemos fazer isso? Deuteronômio 6.6-7 nos dá a resposta: “Que todas estas palavras que hoje lhe ordeno estejam em seu coração. Ensine-as com persistência a seus filhos. Converse sobre elas quando estiver sentado em casa, quando estiver andando pelo caminho, quando se deitar e quando se levantar”.

Você conversa sobre a Palavra com seus discípulos? Você tem prazer em levar seu discípulo para andar com você, aproveitando as situações para ensinar a prática da vida cristã?

Ralph Neighbour, uma verdadeira autoridade no que se refere ao trabalho com células, explicou em uma oportunidade que uma das coisas que fazia para ensinar seu discípulo era levá-lo num boteco. Ali, ele abordava os homens que estavam no lugar e falava do amor de Deus. O discípulo dele conseguia ver como ele falava do amor de Jesus, como fazia para conduzir aqueles homens à reflexão. Consegue imaginar uma cena dessas?

Corremos o risco de viver a vida cristã como o irmão mais velo do filho pródigo. Ele fazia as coisas porque achava que assim iria trazer felicidade ao coração do pai. Fazia de forma mecânica. Achava que seria reconhecido por aquilo. Com certeza, pensava: “Meu pai é patrão e, se quiser agradar o seu coração, tenho que ser um bom funcionário. Fazer muito para ele”. Isso é destrutivo.

Quanto mais nos apropriarmos da verdade de que é prazeroso sermos obedientes porque isso afina ainda mais o nosso relacionamento com Deus e não porque a ausência disso nos excluirá da Sua presença, tão melhor será nosso tráfego na jornada de fazer discípulos.

Se queremos, de fato, formar Cristo em outras pessoas, precisamos misturar nossas vidas com as delas. Não é, e nem pode ser, apenas teoria. Nós só cumpriremos a missão do discipulado de forma satisfatória se a entendermos como um relacionamento entre pais e filhos espirituais. Isso é determinante. Por quê? Porque é o tipo de relacionamento que Deus quer ter conosco.

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