Reforma Protestante: por que ainda é tão importante
Conhecer a história da Reforma nos ajuda a entender parte importante da história da Igreja de Cristo
No dia 31 de outubro, comemoramos os 503 anos da reforma protestante. No entanto, muitos cristãos não entendem a grande importância dessa data e conhecem apenas o pouco que estudaram sobre ela nas aulas de história da escola. A questão é que a reforma ainda ecoa nos nossos dias e é um marco na história da igreja.
Mais de cinco séculos e uma profunda Reforma
No final da Idade Média havia muita convulsão política, social e religiosa. Revoltas dos camponeses, guerras, epidemias, o declínio do feudalismo e da liderança dos papas e da igreja. A população se ressentia dos abusos da igreja, da sua falta de propósitos e da corrupção. O ensino religioso da época tratava pecados como débitos, as boas obras como créditos e a venda de indulgências para perdão das penas do pecado.
Nos séculos 14 e 15 o mundo ocidental experimentou um sentimento crescente de nacionalismo. Os povos não queriam sujeitar-se a Roma. Aspiravam ver surgir uma igreja nacional. Assim, alguns movimentos esporádicos de protestos surgiram contra os ensinos e práticas da Igreja medieval e alguns líderes foram chamados de pré-reformadores: John Wycliff (1325-1384), John Huss (1372-1415) – queimado vivo por causa da sua fé – e Girolano Savonarola (1452-1498) – enforcado e queimado vivo por ordem do papa Alexandre VI. Eles combateram irregularidades e imoralidades do clero, condenaram superstições, peregrinações, veneração de santos, celibato e as pretensões papais. Mas nenhum deles tinha conseguido superar o legalismo religioso – não descobriram a graça salvadora (Ef. 2.8-9) – e começar um movimento que mudasse a situação.
Inspirado por esses homens, Martinho Lutero foi o homem certo, no tempo e lugar certos. Ele elaborou uma carta em latim com 95 teses e a afixou na porta da catedral de Wittenberg, no dia 31 de outubro de 1517, aos olhos de todo mundo. Nela, o ousado jovem apresentou diversas afirmações, como a de que a salvação eterna é conseguida através da fé em Deus (Rm. 1.17), posicionando-se assim contra a venda do perdão – as mencionadas indulgências, que foram utilizadas, entre outras coisas, para a construção da Basílica de São Pedro, no Vaticano – praticada pelo clero católico, ou a autoridade das Sagradas Escrituras (2 Tm. 3.15-17) sobre a tradição da igreja e sobre a palavra do papa, que era tida como a palavra de Deus.
Esse posicionamento afrontava o poder religioso e abria caminho para que todos os fiéis pudessem ler e interpretar a Bíblia e para a alfabetização, pois a parcela de população que tinha acesso à educação era extremamente pequena. Protegido por vários príncipes alemães, escondeu-se no castelo de Wartburg, onde traduziu a Bíblia para o alemão, quebrando assim a hegemonia do latim – utilizado pelos padres.
A Reforma e a sociedade
O que ocorreu na Reforma não foram questões ligadas a liturgias ou desavenças entre líderes, mas divergências quanto à interpretação da Palavra de Deus. Lutero foi um líder que disse “basta” a um procedimento ilegal diante das Escrituras e que, ao ler na Bíblia que “o justo viverá pela fé”, entendeu que o perdão dos pecados não depende de negociações, mas da fé no Senhor Jesus Cristo, o único mediador entre Deus e o ser humano. Nascia assim a igreja pós-Idade Media, fundamentada nas cinco solas, que são os pilares teológicos das igrejas reformadas.
Por outro lado, seu alcance não foi apenas religioso, mas iniciou profundas e duradouras mudanças sociais e políticas na Europa, afetando, posteriormente, o pensamento de todo o mundo ocidental. Ela não surgiu simplesmente da mente de um homem ou de um grupo de religiosos, de uma hora para outra. Mas foi o resultado de décadas de insatisfação e questionamento das doutrinas e práticas da igreja católica, além do desfecho de um longo processo de crítica filosófico-teológica que se gestava entre intelectuais no interior das universidades e da própria igreja.
Agora, mais de cinco séculos depois, continuamos a comemorar a ousadia de servos de Deus que deixaram sua zona de conforto para denunciar o que acontecia e gerar mudanças significativas em diversos âmbitos, as quais têm gerado frutos muito ricos e continuarão marcando o caminho iniciado pelo próprio Jesus na cruz do calvário.
O que são as cinco “solas”?
As 95 teses de Lutero deixaram um legado muito rico. Seus estudos serviram de base para a criação dos cinco pilares da Reforma Protestante, conhecidos como “cinco solas”, que são de grande importância para a estruturação de uma teologia fundamentada exclusivamente na Palavra de Deus, servindo como instrumento de orientação às igrejas no retorno para os verdadeiros ensinamentos das Escrituras, livrando o homem do senhorio do clero e voltando para o senhorio de Cristo.
“Sola” é uma palavra latina que significa “somente”, assim:
1. Soli Deo Gloria (Glória somente a Deus)
A igreja romana ensinava e exigia uma devoção ao clero e aos homens considerados santos que poderiam interferir diante de Deus para perdão de pecados e obtenção de bênçãos para os homens.
Quando se estava na presença do papa e dos cardeais, a reverência deveria ser tamanha, beirando a adoração, onde se demonstraria uma total submissão a estes. Fundamentados nas Escrituras (Ef. 2.1-10; Jo. 4.24; Sl. 90.2; Tg. 1.17, entre outros textos), os reformadores concluem que somente a Deus devemos dar glória.
2. Sola Fide (Somente a Fé)
O homem só pode ser salvo mediante a fé (Ef. 2.8). Não são penitências, sacrifícios ou compra de indulgências que o livrarão da condenação eterna.
Após meditar em Romanos 1.17, Martinho Lutero percebeu que a justiça de Deus nessa passagem é a justiça que o homem piedoso recebe de Deus, pela fé como dádiva.
3. Sola Gratia (Somente a Graça)
A única causa eficiente da salvação é a graça de Deus. Ninguém pode ser salvo por mérito próprio ou por obras, por mais justas e santas que possam parecer.
4. Sola Christus (Somente Cristo)
Este “somente” mostra a suficiência e exclusividade de Cristo no processo de salvação. Desde a eternidade, Deus promove a aliança da redenção, onde o beneficiário é o homem e o executor é Seu Filho unigênito. Portanto, somente Cristo é o instrumento de nossa salvação (At. 4.12).
5. Sola Scriptura (Somente as Escrituras)
Apenas a Bíblia é a Palavra de Deus. Só ela é o instrumento de fé e vida cristã prática para o crente (2Tm. 3.16-17). Ela foi escrita por homens inspirados pelo Senhor e revela a vontade de Deus para nossa vida. Ao lê-la somos iluminados pelo Espírito Santo para entendê-la. As tradições litúrgicas e os escritos papais não são instrumento de fé e prática para o rebanho de Cristo.
Conhecer a Reforma é conhecer parte da nossa história como Igreja de Cristo
A história da igreja nos ajuda a entender como o Senhor tem agido longo dos anos para formar um povo comprometido em estabelecer o Seu Reino nesta terra. E a Reforma Protestante é uma parte importante deste processo. Conheça mais sobre essa história e encoraje os membros da sua igreja local a também conhecerem.
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