Mais do que um marco histórico, a Reforma foi um chamado de volta à essência do Evangelho. Conheça suas origens, princípios e o que ela ainda ensina à igreja de hoje

Em 31 de outubro de 1517, um monge alemão chamado Martinho Lutero afixou suas 95 teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg. O ato, simples em aparência, se tornaria o estopim de uma das maiores transformações da história da igreja: a Reforma Protestante.

Lutero não desejava dividir o cristianismo, mas provocar reflexão. Ele questionava práticas da Igreja Católica da época, especialmente a venda de indulgências — documentos que prometiam perdão dos pecados mediante pagamento. Para Lutero, a salvação não podia ser comprada, ela era um dom gratuito de Deus.

Essa redescoberta do Evangelho da graça foi o coração da Reforma. O texto de Efésios 2.8-9 (NVT) resume perfeitamente esse princípio: “Vocês são salvos pela graça, por meio da fé. Isso não vem de vocês; é uma dádiva de Deus. Não é uma recompensa pela prática de boas obras, para que ninguém venha a se orgulhar.”

Com o passar dos anos, os princípios da Reforma foram sintetizados nas “cinco solas” — expressões em latim que resumem a essência da fé cristã reformada:

1. Sola Scriptura (Somente as Escrituras)

A Bíblia é a única regra de fé e prática. Nenhuma tradição, doutrina ou autoridade humana pode se sobrepor à Palavra de Deus.

2. Sola Fide (Somente a Fé)

A salvação vem pela fé em Jesus Cristo, não pelas obras. Crer é o caminho para ser justificado diante de Deus.

3. Sola Gratia (Somente a Graça)

Tudo é pela graça de Deus, não por mérito humano. A salvação é presente divino, não conquista pessoal.

4. Solus Christus (Somente Cristo)

Jesus é o único mediador entre Deus e os homens. Não há outro caminho para a reconciliação.

5. Soli Deo Gloria (Glória Somente a Deus)

Toda glória pertence exclusivamente a Deus — por meio da criação, da salvação e da vida cristã.

Esses princípios continuam sendo farol para a igreja contemporânea, nos lembrando de que o Evangelho não é sobre o esforço humano, mas sobre a obra completa de Cristo.

A Reforma Protestante também nos ensina sobre a importância da coragem espiritual. Lutero enfrentou o império, o clero e o risco da própria vida para defender a verdade das Escrituras.

Em sua defesa diante da Dieta de Worms, ele declarou: “Minha consciência está cativa à Palavra de Deus. Não posso e não vou me retratar.” Essa convicção ecoa o que está escrito em Romanos 1:17 (NVT): “O justo viverá pela fé.”

Reformar não é destruir — é purificar. Assim como um artesão lapida a pedra para revelar sua beleza, a Reforma buscou restaurar a pureza da fé cristã, centralizando tudo em Cristo e na Sua Palavra.

O impacto da Reforma foi muito além da teologia. Ela transformou a forma como as pessoas se relacionavam com Deus e com a própria fé. Pela primeira vez, a Bíblia começou a ser traduzida e distribuída em línguas acessíveis ao povo. A educação se expandiu, a leitura se popularizou e o culto cristão voltou a ter como centro a pregação das Escrituras e o louvor congregacional.

A Reforma também inspirou movimentos de renovação espiritual em diversos países: na Suíça, com João Calvino e Ulrico Zuínglio; na Escócia, com John Knox; e mais tarde em países como Inglaterra e Holanda.

Cada um desses movimentos manteve a mesma essência: trazer o povo de volta à centralidade da Palavra e à simplicidade do Evangelho.

Mais de 500 anos depois, a mensagem da Reforma continua atual. Em tempos de distração, relativismo e pressa espiritual, somos chamados novamente a voltar às Escrituras e à graça.

A igreja de hoje também precisa de reforma — não para criar divisões, mas para renovar o amor pela verdade. Em Romanos 12.2 (NVT), Paulo escreve: “Não imitem o comportamento e os costumes deste mundo, mas deixem que Deus os transforme por meio de uma mudança em seu modo de pensar”.

Reformar é permitir que o Espírito Santo transforme a igreja, os ministérios, as famílias e os corações. É resgatar a essência do Evangelho: fé, graça e Cristo no centro de tudo.

Os reformadores tinham uma expressão que permanece viva até hoje: “Ecclesia reformata, semper reformanda” — a igreja reformada deve estar sempre se reformando. Isso significa que o processo de reforma é contínuo.

Toda geração precisa redescobrir o Evangelho e reavivar o amor pela Palavra. Quando isso acontece, a igreja volta a brilhar como luz no mundo, apontando para Jesus — o verdadeiro fundamento da fé.

A Reforma Protestante não é apenas uma lembrança histórica, mas um chamado constante à fidelidade. Martinho Lutero, Calvino e tantos outros foram instrumentos que Deus usou para relembrar à humanidade que somos salvos pela graça, por meio da fé, em Cristo somente, segundo as Escrituras, para a glória de Deus.

Que o mesmo Espírito que moveu os reformadores continue soprando sobre a igreja hoje, despertando corações para amar a Palavra, viver pela fé e proclamar a graça — até que toda glória volte para Aquele que reina para sempre.